quarta-feira, 31 de outubro de 2012
Janelas, pulsantes janelas
Gosto de falar das janelas. Elas subentendem nossas visões de mundo. Por minha janela, posso ver outras 300, 500...não saberia dizer, estou cercada de prédios altos, de grandes e pequenas janelas. O concreto que as sustenta é cinza e no geral envelhecido. Mas delas emerge vida. Pulsante vida. Ás vezes, pego-me a observar e imaginar, quem são essas pessoas que as abrem e as fecham diariamente, o que elas fazem enquanto estou fora, o que estão fazendo agora, estarão ouvindo mais fortes os ruídos dos motores, de uma serra elétrica, ou o som que se sobressai para elas, é esse adorável canto dos pássaros da rua. Não sei. Estamos todos muito juntos, porém muito distantes, compartilhamos a mesma vista, o mesmo clima, preocupações semelhantes. Mas não nos conhecemos pelos nomes, porém cada um deve ter sua forma de individualizar os outros, tenho o vizinho dos dois splits, a vizinha do vaso de flores, a da tolha de mesa de bolinhas, a do pano de prato encardido, a que nunca recolhe as roupas de noite, a que tem um pássaro na gaiola. Conhecemo-nos assim, fazemos parte um da vida do outro silenciosamente. Como será que sou conhecida? Pendurei um filtro dos sonhos na janela, poderia ser conhecida com a do filtro, ou como a que faz as refeições em frente a janela, ou quem sabe a que toma seu vinho solitário. Não sei. Mas gosto disso, gosto da minha individualidade, de ser como sou sem maiores preocupações com meu rótulo, se me aprovo, é o que basta. Aqui é tão calmo, tão aconchegante, me sinto protegida. Feliz.
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