Muitas vidas numa só vida, disse certa vez, e de algum modo virou mantra, que ajuda a marcar o ritmo da caminhada;
Lá se vão os anos, floreiras desabrocham e murcham, derrubam sementes, que em dias úmidos, se permitem germinar, de novo florescem, sempre flores, nunca as mesmas, sempre belas;
Lomba a cima, lomba a baixo, por vezes reclama do sol quente, noutras se delicia com a brisa fresca, segue andando, o caminho nunca é o mesmo, dependente do lado que se volta o olhar, para cima, para baixo, para os carros, para os jardins, para o céu, para os fios de eletricidade, para seus próprios pés. Respira! Alívio, hoje é dia de brisa, acho que é primavera;
De tempos em tempos, o caminho fica desconfortável, nem se deu conta, é verão então? O grau dos óculos mudou, não se vê mais o que se via, não há mais floreiras, o chão está poeirento, o sol queima demais, e as brisas foram substituídas pelo abafado úmido que gruda na pele, repugnando, quase asco;
E se o caminhante já não for o mesmo? É bom que refaça a rota, pensa depressa!
É urgente, um novo caminho, semeia, rega sem cessar, é trabalho árduo, e olha só! Já está pronto, agora com muito mais árvores, tem mais sombra, então o chão é mais úmido, a grama cresce, as flores se mantém...
Segue, segue, logo ali, será outono, e depois inverno, e o grau dos óculos vai mudar de novo, e no caminho, verá o que ainda não vira, porque já não é o mesmo, tem novos olhos, novos ouvidos, pode ser que use mais rosa agora, ou mais azul, ou verde água, importa que traçou nova rota, refez a estrada e criou nova vida.
Agora, apenas seja paciente com a brotação.
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