Amanheci sentindo o cheiro de uvas maduras e de polenta assada na chapa, que o Denilson preparava para o café. Ontem a noite choveu muito e esta manhã tudo estava mais verde, mais doce e mais alegre. Estava na casa de meus pais e gostaria de congelar esta manhã de sol, o cheiro quase enjoado de frutas maduras, de comida feita no fogão à lenha. Uma inesplicável sensação de que algumas coisas permanecem ao tempo, as tempestades, aos nossos progressos e insucessos pessoais. Gostaria que aquele lugar ficasse preservado para sempre, que meus pais nunca adoecessem, que as uvas não tivessem de ser colhidas, nem o orvalho dessa manhã pós-chuva secasse com o sol. Se fosse possível abrir os olhos depois de cada noite e ver as mesmas cenas, o leite recém tirado, as frutas ao alcance das mãos, até pela janela da casa, sem precisar pegar o carro, garrimpar um supermercado aberto no domingo e com sorte encontrar algumas das coisas que procuro. Queria ter tudo isso ao alcance dos meus sentidos, mas não posso abrir mão dos sonhos que busco, nem das missões que a vida me deu. Tudo o que preciso está lá e dentro de mim todas as manhãs de meus dias.
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Um comentário:
Achei linda essa crônica!Parabéns.
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