RESENHA
CRÍTICA
Psicanálise
com Crianças
COSTA,
Teresinha. Psicanálise com crianças. 3ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. 88 p.
1 – Credenciais da autora:
Teresinha Costa
é psicanalista, mestre em pesquisa e clínica em psicanálise pelo Programa de
Pós-graduação em Psicanálise do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto
de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e membro do
Corpo Freudiano Escola de Psicanálise – Seção Rio de Janeiro. É coordenadora do
Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) das Faculdades Integradas Maria Thereza (Famath),
em Niterói, onde também é professora, supervisora do estágio clínico e
orientadora de pesquisa sobre a clínica psicanalítica com crianças dentro do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic). É autora do livro Édipo
(Rio de Janeiro, Zahar, 2010) e escreveu, dentre outros, os artigos: “Entre
supervisão e controle: a psicanálise no SPA da universidade”, com Marco Antonio
Coutinho Jorge, in Sonia Altoé e Márcia Mello de Lima (orgs.), Psicanálise,
clínica e instituição (Rio de Janeiro, Rios Ambiciosos, 2005); “A pirâmide das
heresias: a ética na psicanálise com crianças”, in Marco Antonio Coutinho Jorge
(org.), Lacan e a formação do psicanalista (Rio de Janeiro, ContraCapa, 2006);
“A criança e a ética psicanalítica”, Revista Marraio, n.11 (Rio de Janeiro,
Rios Ambiciosos/FCCL, 2006); e “O desejo do analista e a clínica psicanalítica
com crianças”, Psicanálise & Barroco em Revista, n.14 (www.psicanaliseebarroco.pro.br),
dez 2009.
2 – Introdução – resumo principais tópicos:
O livro inicia formulando o conceito de infância, visto ser
necessário, contextualizar a criança histórica e culturalmente, antes de falar
sobre a psicanálise com crianças. A primeira definição de criança vem da idade
média, onde era vista como um pequeno adulto; mais tarde nas
sociedades agrárias, tão logo adquirisse
alguma independência, passava a participar da vida dos adultos e de seus
trabalhos, jogos e festas; os pais não se apegavam muito a seus filhos, pois
poucos sobreviviam. Na renascença a criança passa a ser vista como o centro do
grupo familiar, e a infância considerada um período de preparação para o
futuro. No século XVII, em Um amor conquistado: o mito do amor materno,
Elisabeth Badinter assinala que, ainda considerava-se a criança como um estorvo
para os pais. Essa posição teve origem no pensamento de santo Agostinho, para o
qual a infância não tem nenhum valor e é o indício da corrupção dos adultos. A
infância é uma época em que predomina a maldade da criança, antes de qualquer
adestramento educativo e moral. Nesse sentido, cabe aos pais adotarem uma
atitude rigorosa com seus filhos. Esse pensamento reinou durante muito tempo na
história da pedagogia e foi responsável por uma atmosfera de frieza na família,
e os pais, instruídos pelos pedagogos, passaram a adotar uma educação rígida em
relação aos filhos para livrá-los de suas malignidades naturais.
Com a ascensão do capitalismo, a
criança passa a ser vista como um investimento lucrativo para o estado, a longo
prazo, e sua educação passa a seguir um
modelo pedagógico com objetivo de assegurar o futuro da civilização. Segundo a
autora, dentro de uma perspectiva histórica, partimos de um momento no qual
predominou um total desconhecimento da criança e que, no decorrer dos séculos,
o discurso ideológico sobre a infância ressaltou a representação da criança
marcada por uma natureza a ser corrigida pelo adulto, um ser assexuado, sem
desejo próprio, imaturo. Essa idéia imperou por muito tempo e foi somente a
partir das teorizações de Freud que tal concepção se modificou.
No segundo capítulo a autora fala
dos primórdios da psicanálise com crianças, trazendo as descobertas iniciais de
Freud a partir da escuta de suas pacientes histéricas, inicialmente ele
desenvolve a teoria da sedução, encontrando a etiologia das neuroses dos
adultos em experiências sexuais traumáticas ocorridas durante a infância. Porém,
seu fracassos clínicos levaram-no a abandonar essa teoria e reconhecer que
cenas de sedução não teriam necessariamente ocorrido, Freud chega à conclusão
de que os sintomas histéricos decorriam das fantasias impregnadas de desejo.
Assim, a realidade psíquica era a determinante, e não a realidade factual,
tendo como pano de fundo a sexualidade infantil.
Modificando-se aí, o conceito de
infância, que deixa de ser vista a partir de um registro genético e cronológico
para ser abordada pela lógica do inconsciente. Com os cuidados e o desejo
maternos, a criança será introduzida no campo da sexualidade, pois é pelo
contato com a mãe, ou um substituto, que o corpo do bebê será erogenizado. Em
Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, quando Freud pôs em xeque as
concepções moralizantes sobre a atividade sexual das crianças. Apresenta-se uma
nova criança, dotada de uma sexualidade perverso-polimorfa.
A psicanálise com crianças é
herdeira do Iluminismo, onde coube inicialmente as mulheres analisar as
crianças. Entretanto, a autora traz o
caso do pequeno Hans, publicado por Freud em 1909, como o início da análise com
crianças, ainda faltava um elemento fundamental na clínica com crianças que era
a descoberta do brinquedo como um recurso que o analista utiliza para ter
acesso ao inconsciente infantil. Descoberta essa, que foi propiciada pelo próprio Freud, em 1908,
no artigo “O poeta e o fantasiar”, introduziu a idéia de que a brincadeira da
criança corresponde à fantasia no adulto.
Entre 1920 e 1940, após se constatar
que o brincar da criança supre a regra principal da psicanálise que é da
associação livre, ocorreu o verdadeiro
nascimento e desenvolvimento da psicanálise com crianças, a partir das
pesquisas das primeiras analistas: Hermine von Hug-Hellmuth, Anna Freud e
Melanie Klein.
Nos capítulos terceiro, quarto e
quinto a autora, traz os conceitos das três primeiras analistas. Dos quais vejamos
a seguir:
Hermine von Hug-Hellmuth,
considerada a pioneira da psicanálise com crianças, Freud tinha grande respeito pelo seu trabalho.
Utilizava jogos e desenho afirmando que com esse material as crianças
elaboravam as situações difíceis e traumáticas. Em seu método, a interpretação
do material inconsciente combinava-se com a influência pedagógica direta. Desaprovava
a idéia de analisar crianças muito pequenas aquelas que ainda não haviam passado pelo complexo de
Édipo, pois acreditava que nesses casos a análise, em razão de seu poder de
mobilizar o recalque e ao fortalecer as tendências impulsivas da criança, poderia
prejudicá-la. Também afirmava que o analista deveria contentar-se em obter
êxitos apenas parciais e de contar também com recaídas.
Anna Freud, filha de Freud, lutou para ser
reconhecida no seio de uma família que só esperava que os homens fossem
talentosos. Entrou para o círculo de discípulos do pai, e foi na psicanálise
com crianças que tornou-se reconhecida pelo seu trabalho. Em 1927 publicou sua
obra principal, O tratamento psicanalítico das crianças. Anna Freud recebeu
influências de Hermine von Hug-Hellmuth e, nesse livro, expõe os princípios da
análise infantil. Anna Freud como sua
mestra, recomendava ao analista de crianças desempenhar um papel ativamente
pedagógico. Estudou o comportamento das crianças em jardins-de-infância.
Observou que tipos de brinquedos eram mais utilizados nas diferentes etapas do
desenvolvimento, e, aplicando conceitos psicanalíticos a essas observações,
forneceu uma orientação prática às professoras. Quanto ao tratamento
psicanalítico, levantou questões diferenciando a análise com crianças de
adultos, acreditava haver uma impossibilidade de se estabelecer uma relação
puramente analítica com uma criança em função de sua imaturidade e dependência
do meio ambiente. A criança não tem consciência de sua doença, nem acha que tem
um “problema” para resolver. Nesse sentido falta a criança o elemento
fundamental para a entrada de um paciente a analise, que é o seu mal estar e o
reconhecimento do sintoma e necessidade de tratamento. Associava medidas
pedagógicas aos meios analíticos, numa tentativa de conquistar a confiança da
criança, facilitando seu engajamento no processo psicanalítico. Explicava em
que consistia a análise e tentava convencê-la, a partir de um lugar de saber,
de autoridade, de compreensão e de aliada da criança. Defendia que a criança não consegue associar livremente
como o adulto; não estabelece uma neurose de transferência em função de sua ligação
com os pais da realidade; e, se não houver uma colaboração dos pais com o
analista, melhor será afastá-la dos pais temporariamente e colocá-la numa
instituição onde possa ser analisada. O tratamento psicanalítico visa a
suspensão do recalque ela acredita que a análise com crianças não se dá da
mesma maneira, pois se as tendências pulsionais forem liberadas do recalque, a
criança irá buscar sua satisfação imediata. Anna propõe uma análise pedagógica,
porém esta não pode basear-se nos
processos conscientes do eu que, conforme Freud já havia demonstrado, é a fonte
das resistências. Ao contrário, o processo analítico tem que se apoiar no
inconsciente, nas forças psíquicas recalcadas. Ao longo dos anos, a experiência
clínica fez com que Anna Freud modificasse sua técnica principalmente no que se refere à fase
introdutória à análise e quanto à idade das crianças para o início do
tratamento, que foi reduzida do período de latência para dois anos.
Melanie Klein fundou a técnica da
análise pela atividade lúdica com crianças. Brincar, uma atividade natural das
crianças, foi considerado por ela a expressão simbólica da fantasia
inconsciente. Ela afirmou que pelas brincadeiras a criança traduz de modo
simbólico suas fantasias, seus desejos e suas experiências vividas. O elemento
organizador essencial do pensamento de Melanie Klein é a prevalência da
fantasia e dos “objetos internos” sobre as experiências desenvolvidas no
contato com a realidade externa. Para ela o brincar era capaz de substituir as
associações livres, portanto afirmando ser possível analisar crianças. Iniciou
seu trabalho clínico com crianças partindo do pressuposto de que a teoria
psicanalítica poderia ser aplicada a crianças, fazendo apenas as modificações
que não alterassem a essência da teoria e do processo psicanalítico. A análise
com crianças permitiu não somente confirmar as deduções freudianas sobre a
infância derivadas da análise com adultos, como também fez novas descobertas.
Klein revela que a vida infantil, surge
inteiramente sob o signo da agressividade primária (sadismo) à qual Freud deu o
nome de pulsão de morte em
constante luta, desde a origem, com a pulsão
de vida. Para ela, aos 3 anos de idade a parte mais importante do
desenvolvimento psíquico já está desenvolvida.
O sexto capítulo, trata das Grandes
controvérsias, no período após a destruição da sociedade psicanalítica européia
pelo nazismo. Nesse período, os annafreudianos, que pretendiam ser os porta-vozes das idéias
do fundador da psicanálise um freudismo clássico, centrado na primazia do patriarcado,
no complexo de Édipo, nas defesas e na clivagem do eu, na neurose e numa
prática da psicanálise de crianças ligada à pedagogia, opuseram-se aos
kleinianos, estes defendiam uma clínica baseada na relação de objeto, centrada
nas psicoses e nos distúrbios narcísicos, nos fenômenos de regressão, nas relações
arcaicas e inconscientes com a mãe e na exploração do estádio pré-edipiano. Essas
discussões deixaram muitos ressentimentos, ocasionando mudanças estruturais no
seio da Sociedade Britânica de Psicanálise,
que acabou dividindo-se em três grupos: os annafreudianos, os kleinianos
e os independentes ou grupo do meio. Nesse grupo intermediário destacou-se um
outro psicanalista que estava se dedicando ao trabalho com crianças: Donald
Woods Winnicott.
Donald Woods
Winnicott, tornou-se uma pessoa conhecida e seu nome adquiriu um grande
prestígio. Proferiu conferências dirigidas aos pais, professores, médicos e a
todos que precisavam compreender as dificuldades das crianças ou dos adultos à
sua volta. Escreveu numerosos artigos dirigidos ao grande público, nos quais,
além de transmitir sua experiência em pediatria, encarregava-se de difundir
conhecimentos psicanalíticos. Foi contrário a Melanie Klein, enfatizando os
fenômenos de estruturação interna da subjetividade, ressalta a dependência do
sujeito em relação ao ambiente. No que se refere à psicose, defende a tese de
que é o fracasso da ligação materna que será a causa desse distúrbio. Ele
descreve o desenvolvimento psíquico do bebê, Winnicott
parte de sua total dependência em relação ao meio ambiente para explicar como,
gradualmente, ele consegue se desvincular da dependência desse ambiente, ou
seja, da mãe ou de seu substituto. Estabelece os estágios da criança, ressaltando
que estas atividades transicionais só se
tornarão possíveis se houver uma maternagem suficientemente boa. A mãe
identifica-se com o bebê e adapta-se às suas necessidades, permitindo que ele
possa experimentar uma sensação de continuidade da vida e se desenvolver física
e psiquicamente de acordo com suas tendências inatas. Segundo seus estudos os objetos e fenômenos transicionais
são constituídos quando há uma ameaça de ruptura na continuidade dos cuidados
maternos. Nesse momento, o objeto transicional permite à criança suportar a
separação, restabelecendo a continuidade ameaçada de ruptura. Ao contrário da
maioria dos psicanalistas ingleses, Winnicott tinha conhecimento dos
desenvolvimentos psicanalíticos postulados por Lacan e mantinha com ele uma
relação epistolar. Quanto ao atendimento psicanalítico com crianças, Winnicott não
se preocupava com a demanda de análise, estabelecimento de um diagnóstico, nem
mesmo com a interpretação. Ele buscava estabelecer uma comunicação com a
criança, um encontro “espontâneo”. Winnicott, assim como Anna Freud e Melanie
Klein, estabelece, na direção do tratamento, uma relação dual, imaginária, onde
a análise supõe um encontro e algo a oferecer.
No capítulo sobre a contribuição de
Jaques Lacan, a autora, traz a tona, a releitura de Freud, proposta por Lacan,
com a pretensão de resgatar a cientificidade da psicanálise, resgatar de
maneira nova a questão do sujeito do inconsciente, recorrendo a recursos da
lingüística estrutural de Saussure, e outros saberes como a lógica e a topologia. Repensa também os pressupostos saussurianos, e inverte a ordem
formulada por Saussure e privilegia o significante, além de afirmar que não há
relação entre o significante e o significado, que “são ordens distintas e
separadas inicialmente por uma barreira resistente à significação”. Lacan
afirma que “a linguagem determinará que o sujeito se torne seu servo”, ou seja
desde antes de nascer a criança está mergulhada num banho de linguagem, há um
discurso que a precede. Também que o inconsciente está estruturado como a
linguagem, preocupado em apontar os desvios feitos na psicanálise da época, em
relação à obra de Freud. Em Função e campo da fala e da linguagem em
psicanálise, afirma que Anna Freud e Melanie Klein desconsideraram a
dimensão simbólica do sujeito e reduziram a direção do tratamento a uma relação
dual, imaginária. Lacan vai insistir na função do simbólico no tratamento,
visando destruir a ilusão de reciprocidade. Segundo ele, “cabe formular uma
ética que integre as conquistas freudianas sobre o desejo: para colocar em seu
vértice a questão do desejo do analista”. A divisão do freudismo foi acentuada
pela presença de Françoise Dolto, pioneira da psicanálise de crianças na França.
Lacan não analisou crianças. O que aproximou Françoise Dolto de Lacan foi,
acima de tudo, a primazia que ambos atribuíam à linguagem e à função simbólica,
diferenciando-se nesse aspecto da corrente genética em psicanálise, centrada
numa sucessão de relações objetais e estágios. O sujeito é assujeitado à fala,
o sujeito do inconsciente, nasce no campo do Outro. Se ele não nasce pronto,
deve ser construído, e sua constituição acontece na relação com a fala que
passa pela linguagem. E essa fala não significa aprender a articular palavras e
formar frases para comunicar-se com os demais, mas significa ir além da
necessidade e ter acesso ao desejo. Por volta dos anos 1950 e 1960, a partir
das contribuições de Melanie Klein, Winnicott e outros, imperou no meio
psicanalítico pós-freudiano uma inflação das
teorizações a respeito da função materna, considerada por grande parte
dos psicanalistas responsável pelas dificuldades e sucessos com os quais os
sujeitos esbarravam em suas vidas. A doença mental tinha origem nas
perturbações relacionadas aos cuidados que a mãe dispensou a criança,
posteriormente a preocupação passou a ser a restauração da autoridade paterna,
considerada enfraquecida no seio da família. A partir de Lacan, entendemos
que a relação simbiótica entre a mãe e a criança não se sustenta, há que se
introduzir um terceiro elemento que é o falo, também ele recupera a importância
do pai na psicanálise. Segundo a autora,
Lacan aborda a criança sob o ângulo da verdade, estabelecendo uma diferença
entre a sua identificação ao sintoma e ao objeto. Vejamos:
o sintoma da criança acha-se em condição de
responder ao que existe de sintomático na estrutura familiar. O sintoma — esse
é o dado fundamental da experiência analítica — define-se, nesse contexto, como
representante da verdade. O sintoma pode representar a verdade do casal familiar.
Esse é o caso mais complexo, mas também o mais acessível a nossas intervenções.
A articulação se reduz muito quando o sintoma que vem a prevalecer decorre da subjetividade
da mãe. Aqui, é diretamente como correlata de uma fantasia que a criança é
implicada. ( LACAN apud COSTA 2010).
Ele aborda o sintoma da criança como
uma resposta ao que há de sintomático na estrutura familiar. Para Lacan,
dependerá da relação da mãe com o pai a garantia de que o objeto criança,
divida no sujeito feminino, a mãe e a mulher.
No nono capítulo, a autora aborda os
conceitos da colaboradora e amiga de Lacan, Françoise Dolto, a qual foi uma
psicanalista inovadora em matéria de psicanálise infantil, sua abordagem
centrou-se na escuta do inconsciente e nos traumas genealógicos. Tinha como
proposta inserir a criança na estrutura desejante da família, pois ao nascer
ela está apenas inserida na estrutura do desejo do Outro. Sendo a criança fruto
de três desejos, o do pai, o da mãe e o do próprio sujeito, a partir dessa
posição, ela redefine o sintoma da criança, como sendo sintoma da estrutura
familiar. Segundo Dolto, a fala é o organizador que permite o cruzamento do
esquema corporal (pré-consciente e consciente) com a imagem do corpo (inconsciente). Em sua teorização ela aponta a imporância de falar
a verdade à criança. Ela enfatizava a necessidade de contar à criança toda
a verdade sobre a sua história, mesmo que fosse doloroso para ela ou para os
adultos e que isto deveria ser feito em uma linguagem acessível à sua
compreensão. Segundo ela, a mentira está em desequilíbrio com o pressentido e o
inconsciente do sujeito. Também enfatiza a vinculação existente entre a neurose
dos pais e a dos filhos, um sofrimento não verbalizado de duas linhagens pode
aparecer sob a forma de um sintoma. Quanto a clínica com crianças, Dolto dava
grande atenção ao ambiente familiar. Afirma que a uma das diferenças entre a
psicanálise de adultos e a de crianças
muito pequenas, reside no fato de que essas ainda não perderam o Édipo, o
trabalho aí consiste em compreender a relação mãe-filho, pai-filho e o que
ocorre com a desenvoltura motora, a linguagem verbal, a identidade sexuada da
criança, sua autonomia e seu desejo. Não separava crianças com menos de 5 anos
de seus pais, preferindo fazer um trabalho com eles antes de começar o
tratamento com a criança. Diferentemente de Melanie Klein, que popularizou a
técnica psicanalítica do brincar, Françoise Dolto utilizou principalmente a
fala, o desenho e a modelagem. Um ponto importante na análise com crianças, foi
quanto ao pagamento das sessões, ela introduziu um pagamento simbólico ( pedrinhas,
selos, pedaços de papel colorido), colocando a criança numa posição de sujeito
desejante e responsável por suas dificuldades. Tal como Lacan, coube a ela
resgatar a palavra da criança no discurso analítico, a verdade do sujeito em
sua dimensão desejante.
3- Análise crítica da obra:
O
principal mérito da obra é apresentar os primeiros teóricos da prática clínica
com crianças, através da apresentação de seus pensamentos na época.
A
escrita é em estilo claro e objetivo, traz exemplos de casos conhecidos na
história da psicanálise, aborda as teorias, modelos e sua evolução.
Dirigida
a estudantes, pesquisadores e profissionais da área da psicologia e afins, o
investimento que se faz na leitura do livro resulta em benefícios e aprendizado
para o leitor.
Na presente obra, Costa, não tenta privilegiar um
ou outro pensamento como melhor ou mais adequado, mas apresenta as teorias e
sua evolução.
A
autora separa o estudo em capítulos, iniciando com a conceituação de infância e
sua contextualização no tempo. Após
discorre sobre os primórdios da psicanálise com crianças, a própria
origem da psicanálise com Freud e a observação das mulheres histéricas, o primeiro caso de psicanálise com crianças
que foi do pequeno Hans, analisado por
Freud.
Na
sequência, traz a biografia e o que
pensavam os primeiros teóricos da prática clínica com crianças, dividido em
capítulos. Um ponto que chama a atenção, é que essa análise com crianças, foi um papel que coube inicialmente às
mulheres, por estarem mais próximas,
tanto nos lares quanto na prática pedagógica.
O
livro além de mostrar as primeiras práticas com crianças, traz as diferenças
entre as análises e o pensamento que cada teórico defendeu. Apresenta uma Anna
Freud, que ocupa o lugar de companheira do pai, enfermeira, psicanalista e por
fim guardiã da obra do pai.
Ficam
claras na leitura, as divergências no campo da psicanálise com crianças, que se
dão especialmente, entre os pensamentos de Anna Freud e Melanie Klein, para a
primeira que segue do mesmo modo que Sigmund Freud e diferencia
a análise de crianças e análise de adultos, seguindo o padrão de Freud em
relação à demanda, transferência e interpretação que o seu pai usava. Já Klein, se apoia no conteúdo que
a criança fornece e não no discurso dos pais, visto que os pais tentam
controlar as pulsões e fantasias dos filhos, acredita que a criança tem uma fantasia inconsciente
da doença.
O livro traz ainda as contribuições de Jaques
Lacan, que não analisou crianças, porém as idéias de Francoise Dolto, encontram
as suas em diversos pontos, especialmente a primazia que ambos atribuíam a
linguagem e a função simbólica, Dolto atendia bebês e com a mãe realizava a
prática clínica.
Outro
ponto interessante é sobre as contribuições de Winnicott, com a formulação do
conceito de “mãe suficientemente boa”.
Por
fim, encerra com um quadro comparativo entre os teóricos Anna Freud, Melanie
Klein, Winnicott e Françoise Dolto, deixando claras as semelhanças e
divergências de cada um.
Elisandra Lidiane Minozzo, acadêmica primeiro
semestre do Curso de Psicologia do Centro Universitário Metodista – IPA, out 2017.
REFERÊNCIAS:
COSTA,
Teresinha. Psicanálise com crianças. 3ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. 88 p.
3 comentários:
muito obg pelo resumo, me ajudou muito :)
obrigada pelo conteúdo, me ajudou muito ;)
Excelente explanação, ajudou muito a entender esse livro. Parabéns!
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